A espera de um milagre. Ou melhor: da boa vontade do agente da imigração

Diário da Gilmara na Irlanda

Infelizmente a minha vida na Irlanda não foi só de viagens. Aliás, até arrisco dizer que foi de mais perrengues do que tranquilidade. Como brasileira aqui, minha permanência no país estava condicionada à minha educação contínua já que eu não tinha cidadania europeia. Meus dias como estudante de inglês estavam chegando ao fim, e eu me via diante de uma encruzilhada: entrar na faculdade ou partir?

Após muitas reflexões e pesquisas, decidi que minha melhor opção era fazer um curso de Montessori. Que é uma espécie de pedagogia. Sempre amei crianças, e essa parecia ser uma escolha que combinava paixão com necessidade. Mas o preço era exorbitante – 12 mil euros pelos dois anos de curso, fora as taxas de visto (300). Como sobreviver trabalhando de graça durante os estágios exigidos pelo curso?

Uma decepção e raiva tomaram de conta de mim. Para quem não sabe a imigração tem uma lista de cursos que imigrantes podem fazer no país. Só que as opções são limitadas e custam um rim. Os cursos mais baratos são só para quem é do país, ou é europeu ou tem outros tipos de vistos como o de casado com europeu ou que tem visto de trabalho. Enfim eu não tinha como pagar minhas contas se eu entrasse nesse curso. E emprestar toda essa grana estava totalmente fora de cogitação.

Analisando outras opções, o curso de Administração pareceu mais viável, embora ainda caro. Com a ajuda financeira de meu namorado da época, tomei a difícil decisão de me inscrever. E na minha cabeça vinham as preocupações. As aulas da faculdade em tempo integral iam interferir significativamente no meu trabalho, já que como babá eu trabalho no horário de escolas das crianças de segunda a sexta à tarde. Eu teria que arranjar emprego pro fim da tarde/noite ou/e de manhã cedo para sobreviver.

A realidade se aproximava rapidamente. Meu visto e curso de inglês estavam prestes a expirar (final de outubro de 2018) e o semestre de Administração só começava em fevereiro. Ou seja, implorar à imigração por uma extensão de visto de três meses tornou-se uma saga angustiante. Marquei atendimento duas vezes e nelas minhas respostas foram negativas e a sombra da partida começou a me atormentar. E agora?

A última tentativa foi escrever uma carta bem apelativa, expondo minha precária situação financeira e os riscos de sair do país por esse tempo. A incerteza sobre o futuro. Expliquei sobre os gastos com passagens e custos de sobrevivência somado com despesas das primeiras semanas de volta na Irlanda recomeçando sem emprego e sem casa, já que teria que abrir mão da minha vaga. Também adicionei o fato da crise imobiliária que afetaria minha estabilidade novamente, uma vez que já estava adaptada no país.

Enquanto isso meu namorado já estava me ajudando a comprar passagens para Polônia e ficar um tempo lá com a família dele e depois revezar indo para outro país da Europa até completar os três meses, que na verdade eram quase 4, já que as aulas iam começar no segundo semestre de fevereiro. Brasil estava fora de cogitação porque as passagens estavam caríssimas. Uma corrida contra o tempo… continua

Por Gilmara Bezerra

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