“A ficha estava começando a cair”

Diário da Gilmara na Irlanda

Vencer um medo/insegurança é desafiador, né? Mas ao mesmo tempo, muito gratificante. A barreira da língua, das relações interpessoais aos poucos foram ficando pra trás. Já não eram meu foco principal de preocupação do momento até porque as aulas começaram a virar rotina na minha semana assim como as saídas depois com os novos amigos, que na maioria das vezes eram pra festas, restaurantes, bares e nightclubes ou mesmo a saga em busca de uma vaga de quarto pra alugar.

Pois é! Lembram que eu comentei sobre resolver algumas burocracias da vida de imigrante/estudante? Então, as idas a “Diceys”, um bar/balada muito famoso e popular entre os brasileiros, por exemplo, ou o River Bar, um pub latino também muito conhecido, eram uma forma de tentar relaxar em meio a tantos problemas. Mas que também foi útil para nos conectar melhor com a cultura e em alguns casos, nos forçar a falar inglês já que alguns pubs promovem grupos de conversação de inglês.

E lá vamos nós de novo para mais uma manhã de workshop na agência sobre como preparar o currículo. Afinal dormir até tarde depois de ir pra balada não era uma opção. Então fui com sono e cansada mesmo. Como uma estudante de inglês que ia passar oito meses no país eu podia trabalhar 20 horas por semana. E os empregos mais comuns variam entre: garçonete, assistente de cozinha, bartender, barista, faxineira, vendedora, cuidadora de idosos, e babá (esse é mais informal).

A estratégia para um currículo atraente era descrever e focar em algum tipo de experiência que se encaixe com o perfil da vaga que você quer trabalhar. Eu nunca trabalhei em nenhuma dessas áreas, mas a habilidade com a comunicação e trabalho em equipe foi o que eu pensei em deixar em evidência no meu currículo. Mas a Irlanda também oferece cursos em cafeterias (barista), ou casas de repousos, clínicas (cuidador) e hospitalidade em geral. Além das agências de recrutamento. Tudo depende do seu nível de inglês e o quanto está disposto a gastar nesses primeiros meses.

A oficina acabou com o instrutor falando que além do CV é muito importante também ter um bom networking (rede de amigos/pessoas) para assim conseguir indicações, recomendações do primeiro emprego. É assim que o mercado de trabalho funciona em qualquer lugar. As empresas priorizam profissionais com experiência e como conseguir a posição que você quer sem ter tido a primeira oportunidade com o conhecimento prático e assim convencê-los a te contratar? Mais fácil ter alguém “influente” te apontando diretamente para o chefe.

Passei o dia pensativa. Era só o começo do “me acostumar” com o novo estilo de vida. Abrir minha mente de que ser jornalista e manter o mesmo padrão de vida que eu tinha no Brasil não iam mais fazer parte de mim. Agora era uma questão de tempo, muito esforço e paciência até que eu me organizasse no país e me sentisse “em casa” com uma vida mais ou menos estável. Estando disposta a trabalhar em empregos que eu nunca me imaginei fazendo e arcando com todas as minhas contas.

E para isso eu tinha que achar o equilíbrio entre festejar, ser uma jovem que gosta de sair e curtir a vida sendo responsável, pé no chão e focada no meu objetivo. Porque o sabor da liberdade, do viver o “desconhecido”, sozinha, no anonimato sem o julgamento imediato das pessoas que cresceram com você é muito atraente, mas também pode ser perigoso se você não pensa nas consequências e impactos das suas escolhas do presente no seu futuro.

Por isso que eu digo que pra mim, esse intercâmbio foi uma das maneiras mais puras e fortes de autoconhecimento. Passar pela transição de sair da casa dos pais e se tornar mais independente acontece de diferentes formas na vida de cada um, mas a intensidade e os riscos dessa nova vida dependem muito da nossa coragem e maturidade de enfrentar o mundo mesmo com a saúde mental e emocional nos seus “altos e baixos”. Continua…

Por Gilmara Bezerra

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