Botanic Garden e o dia que eu fui para o “meio do mato” procurar trabalho extra como babá

Diário da Gilmara na Irlanda

Era quase metade do ano de 2017. Maio. E segundo o calendário gaélico estávamos terminando o período da primavera na Irlanda. Em junho começa o verão e com ele as expectativas para o meu aniversário (próximo episódio). Nesses 7 meses de Irlanda eu já tinha sentido na pele três climas diferentes: outono com as folhas caindo pelo chão, o inverno com as arvores “peladas” e secas e agora o desabrochar das flores.

Como ainda estava com a maioria dos fins de semana livre, além de pegar o ônibus para visitar regiões mais afastadas, eu também passeava pela minha área. Um dos pontos turísticos que também se tornou um ponto de refúgio para mim nos dias mais “tristes” foi o Botanic Garden. Nessa época do ano ele fica ainda mais lindo e o melhor de tudo não precisa pagar para entrar.

Eram 20 minutos de caminhada da minha casa até o jardim. Lá tem cerca de 20 mil espécies de plantas de diferentes partes do mundo. Você pode fazer trilhas pelos quase 20 mil hectares de terra, onde também passa um rio chamado Tolka. Tem também uma cafeteria com algumas guloseimas típicas da Irlanda. Confesso que eu fiz muito mais piqueniques naquele gramado e pensei muito sobre a vida observando a natureza e os bichinhos como esquilos e patos.

O lugar também me proporcionou muitos momentos bons com amigos e claro que renderam algumas fotos. Numa dessas vistas ao parque eu parei para avaliar se em todo esse tempo morando na Irlanda eu já poderia dizer que me sentia em casa. Cheguei à conclusão que na verdade eu só estava com a minha rotina mais organizada, mas as finanças. Ah as finanças! Esse quesito é sempre motivo de preocupação.

A faxina na faculdade só me dava 15 horas, mas todo mundo sempre pedia hora extra para bater pelo menos as 20 horas já que eles não podiam oferecer mais do que isso. Só no verão era possível trabalhar as 40 horas que é quando estamos de férias da escola. As 4 horas de limpeza que eu fazia na casa da família eram totalmente fora desse “controle fiscal” da imigração e revenue (Receita Fiscal) e era o que me tirava do aperto.

E é assim que muitos estudantes sobrevivem na Irlanda. “Driblando” essa regra. Com horas mínimas é possível sim sobreviver e pagar o básico, mas se você quer mais conforto, liberdade para viajar e pagar a renovação da escola e do visto é necessário muito mais horas de trabalho. E isso tem que ser feito sem prejudicar a escola, claro. O attendance (frequência de aulas) tem que estar beirando os 85% no mínimo. O desafio de todos que PRECISAM mais de um emprego.

E em uma das minhas tentativas de fazer mais dinheiro eu queria muito ser babá. O pagamento é em dinheiro e vale mais que o salário mínimo. Como eu estudava a tarde, estava em desvantagem porque a maioria das famílias procuravam alguém para cuidar das crianças no período da tarde já que pela manhã elas estão na escola. Das raras exceções achei uma família que tinha dois bebês e que precisavam dos serviços pela manhã.

Mas o meu obstáculo foi a localização. Eu não me lembro qual era a região, mas era remoto e levava em torno de 1h de ônibus para chegar até o local. Era praticamente uma região de fazendas luxuosas. Como eu fui para a entrevista depois da escola eu cheguei na casa deles logo depois do jantar. Isso depois da mãe ir me buscar de carro no ponto de ônibus porque ir caminhando até a porta da casa levaria no mínimo 40 minutos a pé.

Eles eram uma família indiana e as crianças tinham em torno de 2  e 4 anos. A ideia era que eu cuidasse da mais nova pela manhã das 9:00 as 13:00, mas quando eu aceitei conhecê-los eu não sabia exatamente onde era a moradia e então conversando sobre as nossas rotinas, levando em consideração a distância, ficou claro que eu não seria a escolhida.

A volta pra casa foi ainda mais estranha para não dizer assustadora. Porque como já estava escuro, a mãe novamente me levou de carro até o parada de ônibus que ficava literalmente na beira de uma estrada e detalhe só tinha um ônibus de 1 em 1 hora. De acordo com o aplicativo eu ficaria esperando apenas 10 minutos naquele meio do nada. Mas na verdade demorou 30 minutos. Que sufoco. E aqui fica registrado mais uma aventura e mais uma das tentativas de ganhar mais euros… Continua

Por Gilmara Bezerra

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