Dário da Gilmara na Irlanda
Depois de uma semana trabalhando na faculdade tentando conciliar a faxina na casa de família e as aulas de inglês a tarde, era hora de receber o salário. Pois bem, 3h por dia de segunda a sexta daria um total de 15 horas trabalhadas. Lembrando que naquela época o salário como faxineira dessa empresa era 10,30 euros por hora. Na minha conta deveria cair mais ou menos 153,00 euros com os descontos fiscais. Eu estava ansiosa porque eu precisava pagar o aluguel naquela sexta.
Por curiosidade, fiz os cálculos em reais. Em 2017 o salário mínimo do Brasil era de 937 reais por mês, o que seria igual a mais ou menos 6,00 reais por hora. Comparando com a Irlanda os 10,30 euros que eu ganhava era equivalente a 38,00 reais por hora. Por mês eu ganharia em torno de 612 euros trabalhando menos da metade que uma pessoa precisa para sobreviver no Brasil e ainda com bastante dificuldades. O poder aquisitivo na Irlanda é sem dúvidas mais alto que o Brasil, mas ainda sim nem tudo é perfeito como em qualquer lugar do mundo.
Levando em consideração por mês, com esse dinheiro, eu conseguiria pagar meu aluguel e contas, um total de 460 euros. Me sobravam 152 euros para comprar comida, transporte e gastar com lazer se possível. Além disso, era importante guardar dinheiro para pagar a próxima renovação da escola se eu quisesse prolongar meu intercâmbio e outra parte para emergência não é mesmo? Então eu tinha que fazer milagres. E lembrem que ainda tinha o salário da casa da família que dava em torno de 200 euros por mês.
Por causa da divisão de casa e espaço tanto na geladeira como nos armários as compras de comidas são feitas por semana. Ainda sim não é possível comprar muita coisa porque alguns alimentos são muito frescos e estragam rápido. Eu acho que na época em média eu gastava 30 euros por semana com o básico. Arroz, feijão, macarrão, carnes, peixes, saladas, verduras e frutas e pão ou bolachas pro café da manhã ou lanches. Luxo era comprar comidas mais elaboradas ou incluir sobremesa na lista.
Somando com coisas de higiene pessoal como creme dental, sabonete, shampoo, cremes, perfumes (tô falando dos mais baratinhos tá) e que acabam durando por mais tempo e você não precisa comprar toda semana esse valor subia para uns 50 euros semanais. De transporte como eu era estudante, eu tinha direito ao cartão dessa categoria: “student leapcard”. Para conseguir um desse tem que ir na empresa de ônibus (Dublin bus), levar o comprovante de matrícula da escola e pagar uma taxa de 10 euros.
Em 2017, você colocava 20 euros no cartão por semana para usar só o dublin bus. Tem outros pacotes que incluem os trens ou metrô, mas como eu só utilizava ônibus esse valor era suficiente para me locomover para onde eu precisava ir. De segunda a quinta ele cobra 5 euros cada dia podendo usar quantas vezes quiser o transporte público. Na sexta, sábado e domingo ficava de graça vamos dizer assim. Então por mês meus gastos totais ficavam em torno de 710,00 euros mais ou menos. E agora é só fazer a subtração entre ganho e despesas e me restava 100,00 aproximadamente.
Isso tudo era uma estimativa, porque eu nunca fiz tabela de controle financeiro, o que eu acho uma ótima ideia para se organizar melhor. Ainda assim acho que consegui me virar bem, sendo muito econômica e até restritiva com alguns gastos não essenciais como roupas, calçados e eu evitava comer fora e gastar muito nas festas. No decorrer da minha trajetória na Irlanda, eu devo explorar mais esse assunto agora vamos voltar para aquela sexta-feira esperando meu primeiro salário.
Como não era suficiente para pagar o aluguel, então eu tive que completar com o dinheiro que sobrou daquele montante que o estudante é obrigado a comprovar na imigração. Era um dia corrido e eu só consegui tempo para sacar o dinheiro no intervalo da aula de inglês. Dinheiro contado e guardado na minha carteira e dentro da minha mochila. A aula acabou e eu saí correndo para pegar o ônibus que já estava parado do outro lado da rua. Entrei, achei uma cadeira e quando eu retirei a mochila das costas para sentar eu percebi algo errado…Continua..
Por Gilmara Bezerra
