Meu “teste drive” como mãe de 4 crianças

Diário da Gilmara na Irlanda

Apesar de gostar muito de crianças eu nunca idealizei ou romantizei a vida ou trabalho com elas. Eu já tinha um pouco de experiência por ter cuidado de crianças de diferentes idades,  personalidades e estilo de vida da família. Eu sabia que era cansativo físico e mentalmente. Mas eu nunca morei na mesma casa. Nunca passei 24 horas do meu dia vivenciando de perto a vida daqueles “estranhos”. E olha! Pode colocar mais um desafio testado e vencido na minha conta.

Lembra daquela rotina combinadinha e acordada com os pais antes mesmo de começar o serviço e me mudar pra casa deles? Bom, conforme os dias foram passando e eu fui sentindo o funcionamento daquela estrutura familiar e eu me inseri naquele universo como mais uma integrante do lar, foi uma mistura de: você é nossa babá, mas também um membro da nossa família. Eu diria que foi um acolhimento com boa intenção, bonito até, mas muito conturbado.

As quatro crianças estavam numa fase que exigiam tudo de mim e mais um pouco. A mais velha, era um desafio à parte. Faltava um pouco de disciplina, mas eu tinha a sensação de que suas “explosões” eram uma forma de chamar atenção. O que era até compreensível, afinal, os mais novos, especialmente as gêmeas, precisavam de mais ajuda, vamos dizer assim. Apesar de entender a situação dela era difícil não me sentir frustrada por não conseguir me conectar com ela e ter que ser mais “dura” para que ela fizesse o que tinha que ser feito.

Os pais das crianças também eram muito ausentes. Trabalhavam, saíam e viajavam muito. Eles começaram a me pedir para fazer muitos babysitting à noite ou aos fins de semana. Qualquer folga que eu cogitasse ter pra mim mesma virava uma oportunidade para eu ter que ficar com as crianças nem que fosse por algumas horinhas. E tudo bem, se eu não tivesse que trabalhar em outro emprego aos fins de semana e pela manhã enquanto as crianças estavam na escola como eu já havia avisado antes.

Eu consegui um trabalho na lanchonete do mercadinho perto da casa e as vezes a noite eu fazia bicos como garçonete em diferentes eventos. Era uma rotina insana, eu sei. O trabalho na lanchonete era puxado. Tinha que preparar os sanduíches, saladas, lavar,  limpar e ainda atender clientes o tempo todo. Ser garçonete de eventos era uma experiência nova, porque eram festas mais formais como casamentos, formaturas, cerimônias. E vou confessar que nunca levei muito jeito com as bandejas. Eu sou bem desastrada. Mas, como precisava do dinheiro, não tinha muita escolha.

Enquanto isso a noite, as gêmeas estavam em plena adaptação para dormir no quarto delas e não estava sendo nada fácil. Meu quarto era ao lado, então qualquer choro, qualquer movimento, eu escutava tudo. Quando não estavam chorando ou gritando, elas escapavam do berço e desciam as escadas em direção ao quarto dos pais. Era um perigo constante de se machucarem. A cada noite mal dormida, eu me sentia mais exausta, mas precisava manter a calma e cuidar delas com paciência.

Foram dias, meses em que fiquei à beira do limite em todos os sentidos. Tentando blindar ao máximo o meu emocional, sendo mais racional e pensando no meu objetivo “final”. Até rimou! (risos). Tinha dias que eu chorava para extravasar. Nos poucos tempos livres eu também saía para correr ou fazer caminhadas já que a região era linda com muitas áreas verdes e o meu refúgio para dias difíceis, era ir ao Phoenix Park. E, quando tinha algum almoço ou jantar na casa de amigos eu tentava participar. Aliás, meu muito obrigado aos amigos desse período!

Por Gilmara Bezerra

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