Diário da Gilmara na Irlanda
Se você leu o episódio anterior deve ter visto que eu fiquei bem reflexiva sobre estar sozinha e “livre” na Irlanda e ter que trabalhar em algo diferente do que eu fazia no Brasil. Como isso aqui é um diário e não somente uma descrição “seca” dos fatos e acontecimentos eu estou realmente abrindo o meu coração. Eu vivi, senti e vi muitas coisas ao longo da minha jornada e não tem como descrevê-las sem mostrar os sentimentos por trás de cada passo que eu dei.
Também não estou aqui para ditar regras, dramatizar demais, julgar ou te dar um manual de instruções de como fazer um intercâmbio perfeito. Cada pessoa tem motivações, objetivos diferentes e lida com emoções à sua maneira. É também a única responsável por construir o seu caminho. Mas calma que tudo que eu for citando aqui vai fazendo mais sentido no decorrer deste livro da vida real (assim espero!).
Mas vamos então a mais uma etapa a ser resolvida naquelas primeiras semanas: o visto de estudante. Como mencionado anteriormente, eu fiz o agendamento ainda no Brasil e agora era a hora de reunir os documentos e enfrentar a imigração. Num envelope eu tinha: passaporte, carta da escola comprovando a matrícula, totalizando oitos meses, comprovante financeiro de 3 mil euros (isso em 2016, em julho deste ano aumentará para 4,200 euros), seguro saúde e de viagem e 300 euros para pagar a taxa de cadastro.
Nervosa acho que vai ser um adjetivo frequente aqui nesta coluna meus amigos. Pois bem, lá estava eu esperando meu momento aflita. Apesar de estar com toda a papelada necessária sempre tem um medinho do inglês ainda em evolução falhar demais e eu me enrolar e sei lá causar um conflito ali na decisão do fiscal que na maioria das vezes são bem intimidadores com aquela postura séria.
Apesar das pausas longas e cheias de expressões faciais duvidosas na checagem de cada papel, a moça pegou minhas digitais, tirou uma foto, aceitou o pagamento e aprovou meu visto de estudante. O IRP (Irish Residence Permit) de oito meses era a garantia de que eu estava legalmente no país e pronta para mais uma fase do jogo: abrir minha conta bancária.
Esse processo foi um pouco mais fácil, porque na época a minha agência deu todo o suporte e me acompanhou até o banco que eles tinham convênio. Então basicamente, eu precisei do passaporte de novo, visto de estudante (IRP) e uma carta de residência que no meu caso estava ligado a acomodação da agência na época. Hoje em dia tem que ter residência fixa e não temporária (como era a minha situação) e você precisa apresentar alguma conta que tenha o endereço (conta de luz, gás) ou então se já estiver empregado, uma carta da empresa com esse detalhe.
Foi só esperar alguns dias e eu tinha meu cartão do banco, mas com um pequeno detalhe: zero centavos na conta. Afinal eu precisava de um emprego. As minhas despesas até o momento estavam sendo pagas com aquela grana de sobrevivência que o estudante precisa trazer lembra? Os 3 mil euros e os mil a mais que eu trouxe já estavam diminuindo e olha que a apesar de tentar ser econômica (pão dura, medrosa na verdade, risos) são muitos os gastos essenciais das primeiras semanas, fora as tentações como passeios, festas e compras no shopping.
Em meio a essa tentativa de administrar o financeiro, enquanto o emprego não vem (esperem que logo esse capítulo chegará) adivinhem o que eu tinha que resolver antes? Arrumar uma casa fixa para morar. Minha acomodação na agência acabaria em três dias e eu tive que tomar uma decisão… Continua…
Por Gilmara Bezerra