O começo do aprendizado do inglês e das relações interpessoais

Diário da Gilmara na Irlanda

A fase de apenas “turista” de uma semana tinha acabado. As minhas aulas de inglês começaram logo depois do Halloween. Eu estava matriculada no período da tarde, ou seja, pela manhã eu estava livre ainda para resolver as pendências burocráticas  da nossa vida de adulto como: banco, imigração (visto de estudante), mais workshops da agência, a procura de emprego e quarto para sair da acomodação que acabava naquela semana inclusive.

Mas antes de entrar nesses detalhes preciso contar como foi o primeiro dia de aula. A escola de inglês ficava há 15 minutos a pé em mais uma das mais movimentadas avenidas do centro: “Dame Street”. Eu não sei vocês, mas eu fico muito nervosa sempre quando vou fazer algo novo pela primeira vez. Na recepção, eu cheguei meio tímida e só consegui dizer pra moça: “Hi, new student, assessment” (Olá nova estudante, avaliação). Daí ela procurou meus dados e me encaminhou para outra sala.

Com o coração quase saindo pela boca (pois é, quando digo nervosa, na verdade fico é em pânico mesmo, por dentro), uma outra moça muito simpática por sinal me recebeu e começou a “despejar” um monte de palavras em inglês e eu só fui “pescando” alguns significados de acordo com os gestos e movimentos que ela fazia com a mão. Eu já estava passando por um teste e não sabia. Em resumo, eles precisavam fazer um questionário comigo para poder entender em que nível eu me encaixava e assim me encaminhar para a sala de aula adequada.

Fui parar em uma classe um pouco acima de “beginners” (iniciantes), digamos que seria um tipo de intermediário. São alunos que já tem um pouco de conhecimento da língua e não estão começando do zero. Ou seja, conseguem entender e se expressar um pouco mais. Eu acredito que éramos mais ou menos umas 20/25 pessoas. A maioria brasileira. Mas tinha uma parcela de nacionalidades diferentes como turcos, mexicanos, alemãs e etc.

Eu acho que em um ambiente novo com pessoas diferentes e de países diferentes a tendência do ser humano é se conectar com quem tem mais afinidade. E foi o que aconteceu. No intervalo, nós brasileiros, nos introsamos mais rápido e lógico que usando a nossa língua materna. Eu era a única de Roraima, mas com gente da região norte também. Os paulistas e cariocas ganharam em quantidade. Aliás não só na minha turma, mas em todas as salas de aulas da escola.

A adaptação para mim foi boa de uma forma em geral. Estudar e lidar com pessoas é uma questão complicada pra mim. Aprender é um processo e é preciso paciência e muito esforço, que vem não só de estar frequentando as aulas e participando das atividades, mas também de se colocar no mundo irlandês. E o que eu quero dizer com isso? Pra mim, o aprender inglês de fato veio dos atos de “observar e absorver”. Apesar de estar cercada por brasileiros eu moro em um país nativo e tudo a minha volta era aprendizado.

Tentar me comunicar com meus colegas “gringos”, prestar atenção em uma situação na hora do intervalo entre professores ou mesmo ali na recepção, na lanchonete ao fazer o pedido do lanche, uma fofoca no banheiro. De todas as maneiras eu tentava  focar e “digerir” coisas do dia a dia em inglês. Porque o fato de estar acompanhada só por amigos brasileiros não deveria ser um problema como muitas pessoas acham. Você precisa buscar a solução que mais funciona pra você e que te traga equilíbrio. Afinal, os amigos brasileiros também estão no mesmo “barco”, e são os que vão te apoiar, te ajudar quando você mais precisar.

E guardem bem quando eu digo que são eles quem vão te ajudar. Porque mesmo com os dramas que qualquer relacionamento enfrenta, discordâncias, brigas, mal entendidos, pessoas que vêm e vão das nossas vidas ainda mais fazendo um intercâmbio, todo mundo está ali enfrentando a si mesmo em primeiro lugar. É dificil estar fora da sua zona de conforto com “estranhos” tentando sobreviver e se encaixar no país. Ninguém é perfeito e para acertar, às vezes, vamos errar bastante. Continua…

Por Gilmara Bezerra

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