O doce e amargo mês de janeiro

Diário da Gilmara na Irlanda

Janeiro foi um mês um pouco “amargo” pra mim vamos dizer assim. Acredito que me deixei levar pela energia pesada que o inverno traz pra Irlanda nesse período do ano. Ir dormir e acordar em dias praticamente sem sol e frio é bem desafiador. Fora que não tem mais Halloween e nem Natal para ocupar a mente fazendo preparativos. O primeiro mês do ano e o terceiro mês da minha estadia no país foi difícil para ser bem sincera. Desculpem começar esse episódio com esse “banho de água fria”.

As emoções são traiçoeiras. Eu estava me sentindo muito ansiosa e frustrada por ainda não ter encontrado um emprego e ver meu dinheiro indo embora a cada aluguel, despesas ou viagens que eu tinha me causava medo. E junta isso com a indisposição que os dias frios trazem isso acaba virado uma paranoia sem fim. E eu lembro de me deixar ser consumida pelo negativo e pessimismo e de chorar muitas vezes sozinha, na cama, pensando se foi um grande erro ter me mudado de país.

E eu aposto que a maioria das pessoas que conviveu comigo na época só vão estar sabendo disso agora quando lerem esse diário. Até minha família não imaginou que eu pudesse estar me sentindo assim. Eu estava frágil e sem ninguém, com o desafio de ter que me virar para dar um rumo na minha vida “sem sucesso” até o momento. Parecia que só depois do trabalho em mãos eu me sentiria estável e bem-sucedida. Ansiedade sufoca gente, sério! E comparações também! Muito cuidado com isso!

Compartilho isso, pela importância que é ter uma saúde mental “sob controle”. De reconhecer quando: a gente “finge” estar bem, do: não estar bem, mas escolher pensar positivo e reagir. Ter um posicionamento diferente, ter fé que o amanhã será melhor e, principalmente, buscar ajuda se for necessário. Eu posso dizer que tive sorte de não me afundar naquele “buraco escuro” por muito tempo, talvez porque eu estava rodeada de pessoas otimistas, alegres e bem-humoradas.

Muita gente pode achar que é drama, frescura, mas cada um lida de um jeito diferente com seus problemas e por mais “cedo” que fosse estar me desesperando daquela forma, hoje eu vejo tudo como parte do meu processo de amadurecimento interno e externo. A verdade é que só o tempo mesmo faz a gente compreender certas situações. E dia após dia, eu estava lá firme e forte novamente entregando currículos e pedindo pela minha primeira oportunidade.

A tal “cara de pau” se faz necessária quando você não tem intimidade e experiências no país. Saber vender seu “peixe”, tanto no currículo como na hora de conversar com quem está contratando. Receita óbvia e clichê, né Gilmara? Pois é, mas fazer isso na prática, em outra língua (que você está aprendendo) e não ter um retorno rápido dá um desânimo concorda? A competição com vários estudantes no mesmo barco procurando um serviço e a demanda um pouco mais baixa devido ao inverno são outros obstáculos.

Pois é, hoje eu resolvi escrever sobre o que estava acontecendo por detrás dos vídeos e fotos das redes sociais ou ligações, onde a gente costuma postar/falar apenas da parte boa de viver na Europa. E que bom que eles existiram também né? Ninguém merece viver só de dias ruins. Mas é uma escolha viu? É um alívio pra mim dividir minhas dores, expressar meus sentimentos e rever as dificuldades da Gilmara com 26 anos da época, mas além da minha força de vontade, agradeço demais a todos ao meu redor que de certa forma me ajudaram a fazer meu dia melhor, menos triste.

A doçura vem aos poucos (exercício diário e eterno tá?), sendo paciente, se cercando de pessoas que apoiam e contaminam otimismo. E foi aê que o primeiro emprego apareceu! Eweline, outra roraimense intercambista foi um dos anjos que me indicou um cleaner (faxina) em uma casa de família uma vez por semana. Três horas limpando tudo para ganhar 14 euros a hora (total de 42 euros). Fora a passagem de ônibus que custava 5 euros ida e volta. Bom, ainda não era suficiente, mas era melhor do que nada. Continua…

Por Gilmara Bezerra

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