“O importante é não se entregar e não desistir”

Quem vê a Apoliana Castro, 28 anos, casada, mãe de três filhos, empreendedora, não imagina que ela engravidou aos 14 anos, enfrentou uma depressão, passou fome e até pensou em cometer suicídio.

Poli, como é conhecida por muitos, nasceu no município de Pacaraima, onde morava com a mãe e irmãos. Ela faz parte da população de meninas que engravidou na adolescência e que tinha o sonho de ter e dar um futuro digno aos filhos.

“Eu engravidei do meu primeiro namorado, mas não ficamos juntos. Foi um período bem crítico na minha vida. Meu relacionamento com a minha mãe não era muito estável. Por este motivo contei e tive todo o apoio da minha irmã mais velha , que faleceu. Escolhi mudar minha história, terminando meus estudos, conseguindo um emprego para ter meus filhos morando comigo. Passei necessidade, teve uma vez que minha refeição durante todo o dia foi um cupuaçu que tinha caído do quintal da vizinha”.

Há um ano, ela começou a empreender com semijoia e bijuterias finas. Com o empreendedorismo, Poliana tem vivido uma nova fase e conquistado sonhos. Inicialmente as vendas eram realizadas pelo Instagram e WhatsApp. Recentemente, ela incluiu em seu negócio mais um produto: camisetas.

De acordo com o McKinsey Global Institute, o mercado de semijoia, joias ou bijuterias está se desenvolvendo a cada ano. Conforme estimativas acredita-se que ocorra um crescimento de até 6% nos próximos anos.

“Eu sei que ainda estou no começo do meu sonho e a frente da concorrência ainda sou pequena. Mas, estou me dedicando e acredito, que com estudos, participando de eventos do Sebrae Roraima, foco, determinação e fé, eu vou alcançar resultados positivos para fazer o meu empreendimento dar mais certo que hoje. Quero deixar um legado do que eu fui, fiz e alcancei para a minha família”, conta Apoliana.

Poliana é a garota propaganda do seu negócio

CHEGANDO A BOA VISTA

“O pai do meu segundo filho e atual marido morava em Boa Vista. Eu vinha para cá somente aos finais de semana. Um dia conversando com minha sogra, disse que não poderia mais ficar morando em Pacaraima porque não via expectativa de melhoria de vida para mim e meus filhos. Foi quando tomei uma decisão dolorosa, deixei o meu filho mais velho com minha mãe e o mais novo com a minha sogra. Fui morar com uma amiga em Boa Vista, que conseguiu um emprego na casa da tia para cuidar de uma criança autista”.

O trabalho em casa de família não deu tão certo. Contudo, com o apoio da amiga, Apoliana conseguiu terminar os estudos. Em seguida, Poli conseguiu uma vaga de trabalho em uma empresa de engenharia, o qual ela trabalhou por nove anos.

Poli foi contratada para trabalhar com serviços gerais, ganhou a confiança do chefe que cedeu um lugar nos fundos da empresa para ela morar e o seu esforço e determinação a levou ao cargo de secretária da empresa. .

Paralelo ao trabalho na empresa de engenharia, ela começou a vender roupas, porém o negócio não deu certo. Em 2021, Poli engravidou do terceiro filho.  Após voltar da licença maternidade foi demitida e começou uma nova etapa em sua vida.

DEPRESSÃO E EMPREENDEDORISMO

Quando engravidou do terceiro filho, Apoliana já estava com a vida mais estruturada, ela e o marido conseguiram comprar a casa própria e juntos decidiram que ela poderia se dedicar por um tempo somente à maternidade.

Apoliana recebe o apoio do marido e filhos

“Eu estava bem feliz por me dedicar à casa e família. Contudo, ao passar dos meses, eu comecei a me sentir inútil, triste, me trancava no quarto, não queria sair e chorava muito. Parecia que não tinha mais nada na minha vida. Entrei num quadro depressivo e de ansiedade. Foi quando tive um sonho, orei a Deus pedindo direção e nasceu a Divino Joias”.

De acordo com dados do Sebrae, o Brasil é o 7° país com maior número de empreendedoras. Empreender pode ser a solução para gerar renda, realizar sonhos ou sair de crises pessoais e emocionais.

A Divino Joias funcionava na sala de sua casa, a rotina de empreendedora era dividida com o papel de mãe, dona de casa e esposa. O marido que é enfermeiro, ajuda com as entregas nos dias de folga e é o maior incentivador da Apoliana.

A sala da casa de Apoliana transformou-se na Divino Joias

Segundo sites de atacado de bijuterias, o investimento médio para começar nesse ramo geralmente fica abaixo de R$ 1 mil. Já, o retorno acontece rapidamente porque os acessórios são produtos fáceis de vender e de consumo imediato.

“Assim que comecei a vender joias, fui a São Paulo com minha sogra para acharmos revendedores de peças com qualidade. Fui apenas com R$ 800 e um cartão de crédito. Tive crise de ansiedade chegando lá, passamos um perrengue grande. Foram muitas lutas e sacrifícios, mas entendi que o mais importante é não desistir e não se entregar à depressão, ansiedade. É preciso confiar em Deus, trabalhar, estudar e buscar ajuda”.

A LOJA FÍSICA VIROU REALIDADE

No dia 26 de maio, Apoliana inaugurou sua loja física, no bairro Aparecida. “É um passo que eu desejava dar, queria um espaço para receber clientes e amigos. Toda trajetória até aqui conta com os cuidados de Deus, da minha família, dedicação e muito esforço ao meu empreendimento”.

“Quero que minha história sirva de inspiração. Eu passei muitas lutas, perrengues, mas tudo teve um propósito de me fazer uma mulher mais forte, mais temente a Deus e sei que só estou no início. Somos mais fortes do que imaginamos. O importante é não se entregar e não desistir”.

Matéria atualizada no dia 28 de maio de 2023.