Primeira visita ao Brasil durante o intercâmbio

Diário da Gilmara na Irlanda

Março de 2018 foi marcante. De neve para mais um festival de São Patrício (Saint Patrick’s Day na Irlanda). Minha segunda experiência foi novamente indo prestigiar o desfile dos carros alegóricos no centro. Como a gente morava a pouco passos da festa eu e as amigas nos empolgamos de ir de novo. Diferente também do ano anterior eu não passei o dia e a noite pela região. Logo que o desfile acaba todo mundo vai para bares, restaurantes e nighclubes continuar comemorando.

Mas eu tinha um babysitting para fazer com a família que eu trabalhava. O trânsito nesse dia fica meio bagunçado, mas depois de andar bastante consegui achar uma rua em que o ônibus ia passar sem interrupções. Cheguei eram umas 6 horas da tarde para os pais poderem ir para o compromisso deles e eu fiquei responsável pelo cinema em casa e rotina da noite das crianças. Correu tudo bem! Mas quando os pais chegaram depois da meia noite não tinha táxi disponível na região e eu acabei dormindo por lá.

No outro dia cedo, a mãe pagou meu táxi de volta para casa. E como sempre na correria eu também estava em meio a mais uma renovação de visto de estudante, escola paga e atendimento na imigração para pegar mais um visto de oito meses. É sempre uma adrenalina e nível de estresse alto porque todo meu dinheiro é usado nesse momento. Só fica mesmo o restante para pagar minha sobrevivência de alguns meses até o bolso dar uma “aliviada” de novo que é quando eu consigo juntar mais grana, sem esse gasto alto de uma vez só.

E para completar o aperto no bolso, eu tinha viagem marcada para o Brasil em poucos dias. Após quase dois anos fora da minha cidade natal eu tive que voltar para resolver questões pessoais e burocráticas. Foi uma viagem planejada, porém organizada em pouco tempo devido à urgência dos problemas então tive que contar com a ajuda do meu pai para conseguir as passagens aéreas.

Cheguei a considerar alugar temporariamente minha cama no apartamento compartilhado com minhas amigas, mas o trabalho de reorganizar os armários para a nova pessoa acabou me fazendo desistir da ideia. Optei por manter tudo como estava, proporcionando mais privacidade e espaço para elas. Afinal, duas semanas passam correndo. E quando eu voltasse ia agendar muitas faxinas e serviços de babá para compensar.

Os dias no Brasil foram intensos, mal tive tempo de desfrutar das férias. Afinal, ao visitar o país, também era importante realizar um check-up médico. Infelizmente, na Irlanda, o atendimento médico deixa a desejar. Os custos são elevados e encontrar profissionais com o mesmo “tato” que estamos acostumados no nosso país era uma tarefa árdua. Embora o país possua bons equipamentos, tecnologia falta uma estrutura mais acessível e humanizada para atender à população.

Por outro lado, no Brasil, apesar dos desafios do sistema de saúde pública e da estrutura precária, não faltam clínicas particulares com profissionais altamente qualificados, prontos para oferecer cuidados e atenção, algo essencial quando estamos em situações mais vulneráveis. Dessa forma, agendei várias consultas médicas. Mas além das questões médicas e burocráticas, conseguir ver algumas pessoas da família e amigos, também matei as saudades da comida brasileira e recarreguei minhas energias com muita vitamina D. 40 graus todo dia na pele.

Eu confesso que eu achava que voltar para a Europa seria mais difícil, lógico que eu amo minha família e ver meu pai triste partiu meu coração, chorei e fiquei mal por algumas horas. Mas por tudo que eu vivi e estava prestes a viver na Irlanda e da forma mais intensa possível talvez era o que me dava a sensação de também estar voltando para casa. Um sentimento totalmente diferente da experiência anterior que foi sair do Brasil pela primeira vez para morar fora. O medo e a insegurança do desconhecido já não me rondavam mais.

Chegar no meu apartamento na Irlanda, ver minhas amigas me trouxe de novo para a realidade. Faltava sol, comida boa, companhia da família, mas o meu corpo e mente também aprenderam a gostar do frio, da liberdade de viver a solitude de forma plena e de alguns aspectos do estilo de vida europeu. Não necessariamente a vida de um estudante/imigrante na Europa que não tem nada de glamour. Mas era o que eu tinha. Nessas horas o que importa mesmo são os momentos vividos e as lições aprendidas ao longo do caminho.

Por Gilmara Bezerra

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