Diário da Gilmara na Irlanda
Em dezembro, entrar numa loja ou supermercado e ouvir a música da Mariah Carey: “All I Want For Christmas Is You” todos os dias até o natal é sagrado. As decorações e luzes coloridas e brilhantes fazem o frio e a falta de sol passarem até despercebidos de tão distraídos e ocupados que as pessoas ficam nessa época do ano. O tempo na escola passava rápido e com ele várias atividades relacionadas à data. Uma delas foi a apresentação de coral em frente ao Post Office (Correios no Brasil) um pouco antes do recesso escolar.
Não me recordo se a minha turma da escola cantou ou se apenas fomos apreciar as apresentações, mas tem registro desse dia (foto 1 do site) e a lembrança de como eu estava me sentindo. Acredito que o natal seja um momento “mágico” em qualquer lugar que celebre a data. Talvez não só pelo significado religioso, mas também por reunir famílias e amigos. Então apesar de lá no fundo me sentir triste pela distância dos meus parentes, eu também estava empolgada de ver outras culturas juntas festejando.
Eu me apegava na boa energia desses dias que antecedem o Natal. Observando o vermelho, verde, azul, branco e dourado dos enfeites espalhados por toda a cidade. As pessoas muito empolgadas nas ruas comprando os presentes ou fazendo a “feira” para o almoço/jantar de natal. Na nossa casinha já tínhamos a lista com o cardápio pronto. A ideia era que alguém fizesse toda a compra e depois dividíamos o valor entre todos. Quem quisesse ficar responsável por um prato específico também era bem-vindo. Eu quis fazer minha farofa tradicional.
Na Irlanda o jantar de Natal é na verdade comemorado no dia 25/12. É um almoço/jantar onde as famílias comem por volta das 3 ou 4h da tarde. Ao contrário de nós brasileiros que já estamos com o banquete pronto para ser saboreado no dia 24/12 a noite. As únicas comidas em comum são o Peru, Porco e saladas. Os irlandeses não têm farofa ou salpicão no menu. Mas tem vegetais assados como batata e cenoura e outros cozidos como o repolho e couve de bruxelas. O “stuffing” seria a farofa deles também usada pra rechear a carne que é farelo de pão temperado.
As sobremesas são de longe parecidas. Aliás tem um bolo irlandês que se chama christmas pudding, mas não tem a nada a ver com o nosso pudim brasileiro. A textura e o gosto são diferentes porque é feito de frutas secas. Eles também gostam de comer tortas de frutas (mince pies) e a sherry triffle que é uma gelatina de frutas misturada com creme. Enquanto no nosso menu fizemos questão de ter pudim, pavê, rabanada e frutas.
O “secret santa” (amigo oculto/secreto) também acontece na Irlanda tanto nas casas como nos ambientes de trabalho. E mesmo sem essa brincadeira de troca de presentes eles gostam muito de presentear. Pode ser apenas uma lembrancinha, como uma cartinha acompanhada de um vinho ou uma caixa de chocolates, por exemplo. A propósito, um costume entre eles é trocar cartões em datas especiais, tanto que a maioria das lojas tem seções grandes reservadas só para vários tipos de cartões.
E enfim chegou o dia 24/12/2016 e na casa 368 os preparativos estavam a todo vapor. Os meninos como sempre (Tom e Rodrigo) cuidaram da maioria das refeições. Arrumamos a cozinha/sala de uma forma que a mesa ficasse encostada na parede com toda a nossa gastronomia tradicional e assim teríamos mais espaço no meio para curtir a nossa festinha com direito a convidados/amigos que quiseram se juntar a nossa família. Teve muita fartura, trocas de presentes, muitas risadas e brincadeiras, muitas ligações para o Brasil.
E para mim, o que resume esse natal de 2016 foi exatamente o que eu escrevi nas minhas redes sociais daquele dia é que apesar da celebração ter um “gosto já conhecido” e me trazer aquele conforto e segurança de estar entre meus semelhantes, esse natal era diferente por outro lado. A menina, a mulher, a Gilmara, a Gil, a Gi, a Mara, as pessoas ao redor, o lugar, o lar, o clima, o cheiro, o ar… Nada era mais como antes.
Continua…
Por Gilmara Bezerra