Diário da Gilmara na Irlanda
Carta “apelativa” enviada à imigração e eu fiquei esperando por uma resposta que determinaria meu futuro na Irlanda. Duas semanas se passaram desde que apostei todas as minhas fichas na esperança de que a imigração me permitisse continuar aqui. A cada dia que passava, a ansiedade aumentava. Enquanto isso, eu me preparava para qualquer desfecho, mesmo que isso significasse mudanças drásticas em minha vida.
Eu tinha só uma passagem de ida comprada para a Polônia como garantia que estaria pronta para sair do país se necessário. E o prazo para embarcar estava próximo. Só que eu tinha esperanças de fazer o cancelamento dela. Enquanto isso, eu também já estava me preparando fazendo minha mudança de casa. Estava saindo do apartamento das minhas amigas para ir morar com o meu namorado e assim economizar dinheiro desse aluguel. Já que meu futuro permanecia incerto.
Após um mês e meio de espera angustiante, finalmente recebo a resposta que tanto aguardava: minha extensão de visto foi aprovada. Um misto de alívio e gratidão me invadiu, mas também uma sensação de sobrecarga diante das mudanças que viriam. Com a extensão garantida, o plano de “mochilar” pela Europa foi descartado. Era a hora de me preparar para uma nova fase, uma nova rotina. Casa nova, novos desafios acadêmicos e o início de um relacionamento que já nasceu sob a sombra da minha instabilidade na Irlanda.
Com quase dois meses para me adaptar à minha nova realidade, a casa onde eu e meu namorado alugamos ficava numa área mais distante do centro. Mas ela estava em boas condições e era bem maior que todos os apartamentos que já tinha morado. Tinha até quintal. Geralmente casas mais afastadas são mais novas/conservadas. O preço do aluguel também era mais barato e ficava perto do trabalho dele. Estávamos dividindo a casa apenas com um croata.
Eu ainda era babá e dessa vez tinha que sair bem mais cedo e pegar dois ônibus para chegar até a casa das crianças. Era hora também de avisar a família que meus dias com eles estariam contados já que quando as aulas começassem eu não poderia mais me comprometer em ir trabalhar todos os dias. A mãe foi super gentil como sempre e como as crianças já estavam mais independentes ela também não ia mais precisar de mim com frequência.
Então combinamos de que quando eu tivesse meu roteiro de aulas ela poderia me garantir um serviço extra de vez em quando. Ela também foi me indicando para várias famílias com crianças menores que pudessem estar precisando de mais ajuda. E todas ficavam na mesma região. E assim fui juntando o máximo de dinheiro que eu poderia para ir sobrevivendo aqueles dias antes das aulas e ajudar nas despesas da minha nova casa.
Mais um Natal e um Ano novo chegaram na Irlanda. Dessa vez eu estava de casa nova e com os amigos poloneses do meu namorado. Preparei um ceia típica brasileira que foi aprovada por eles. Em meio as celebrações, dentro de mim eu só conseguia pedir por mais um ano com menos perrengues por favor… Continua
Por Gilmara Bezerra