PARTE 1 – A SAGA DA BUSCA POR UMA CASA PARA MORAR

Diário da Gilmara na Irlanda

Bom, o que eu não comentei no episódio anterior é que em meio a imigração e banco para resolver, eu também estava na saga da procura de vaga de casa pra morar. E como esse assunto é uma parte muito importante do intercâmbio eu decidi expor e contextualizar esse desafio em específico em duas partes inicialmente. Então relembrando, eu estava na acomodação da agência que é temporária apenas por duas semanas, ou seja, àquela altura do campeonato eu tinha 3 dias para me mudar.

Acontece que antes deste prazo muitas coisas aconteceram, então vou tentar explicar em detalhes como funciona esse processo na Irlanda. O ano que eu cheguei em Dublin era 2016 e já se falava na dificuldade que o sistema de habitação enfrenta na capital principalmente. Isso porque o destino é um dos mais populares entre os estrangeiros que buscam fazer um intercâmbio ou mesmo recomeçar. Mas com muita gente chegando e pouca oferta de casas, construções em andamento e crescimento desregular, entre outros fatores, fica complicado atender a demanda.

A situação ficou ainda mais crítica com a pandemia e depois dela. Porque além de não achar vaga fácil, os aluguéis que já estavam subindo de preço agora estão caríssimos. Só para você ter uma ideia, atualmente um estudante que só pode trabalhar 20 horas por semana ganha por mês uma média salarial de 900 euros e hoje tem que pagar um aluguel entre 600 a 800 euros para dividir casa e quarto e imagine então quanta custa para ter um quarto somente seu ou até um apartamento/ casa? A conta não fecha, meus amigos.

Pois bem, voltemos a minha situação. Para procurar vaga, eu tive que entrar em grupos de acomodação no facebook, ou sites específicos de aluguel de casas (Daft, Rent.ie) além de deixar todo mundo ao meu redor saber que eu precisava me mudar. Agora imagine que todos do meu círculo de amizade até o momento eram estudantes na mesma situação de busca. Então acabava que íamos visitar vagas juntos e se lá tivesse outra oportunidade cada um tentava se ajudar.

E era assim que muitas vezes depois das aulas íamos ver as casas que agendamos previamente. E se você pensa que é só fazer isso e chegar no local, fazer entrevista e o pagamento e pegar as chaves está bem enganado. As vagas são tão concorridas  e a maioria ocupadas por outros estudantes que, quando você chega, você passa por uma entrevista pra ver se você tem o perfil que os moradores querem, faz um tour pelos ambientes e depois de dias recebe um sim ou não.

Sem contar que a maioria das vagas próximas ao centro da cidade onde a vida do estudante está focada nesse primeiro momento são na maioria construções velhas, mal estruturadas, com superlotação. Dando um exemplo mais simples: uma casa que seria para suportar 2 pessoas apenas, moram geralmente 4 pessoas. Porque no único quarto da casa tem duas beliches dividindo o espaço que já é estreito e se apertar mais um pouco o sofá e a sala vira quarto para outra pessoa.

Pois é, essa é a realidade e eu não estou sendo exagerada. Eu vi com meus próprios olhos. Em uma semana eu acho que consegui visitar umas 6 casas, dentre elas: casas com mofo e super sujas e desorganizadas, outras com perfil de pessoas que de cara já não batiam comigo (estilo de vida diferente), apartamento em que um colchão no meio entre duas beliches seria a vaga, outra em que o sofá na cozinha/sala estava para alugar e todas com a mesma característica: um monte de gente compartilhando um ambiente minúsculo. E pra completar: eu não fui escolhida.

“Mas Gilmara, tenha paciência, isso é sinal de que algo melhor estar reservado para você!”, meu inconsciente positivo dizia. Mas na realidade eu estava desesperada e pensando: “Meu Deus porque eu saí da minha casa, com um quarto confortável pra viver isso aqui?” Então a única decisão cabível para aquele momento seria recorrer a agência e pedir para renovar ao menos mais uma semana na acomodação. E a “facada” no bolso que todo aluno tenta evitar nesse início de intercâmbio veio com tudo acompanhada de: nós podemos renovar sim, mas só temos vaga em outro prédio, então você vai ter que se mudar pra lá. Continua…

Por Gilmara Bezerra

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Uma resposta

  1. Absolutely brilliant article. This is so interesting. And amazing to read. It’s crazy to think about what happens if to exchange students in this country. It is so so challenging. Thank you, Gilmara, for your ‘positive unconscious’. The world needs lots more people like you. You are a blessing for this country.

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