A decisão de renovar o visto e alto preço para ficar na Irlanda

Diário da Gilmara na Irlanda

Por detrás das viagens de fim de semana e da comemoração do meu aniversário, o que eu vou contar agora já estava acontecendo nos “bastidores”. Durante a semana, de segunda a sexta como eu já comentei algumas vezes, eu tentava conciliar trabalho com estudos. Mas no verão essa rotina muda um pouco porque os estudantes tem férias e com isso a chance de trabalhar mais de 20 horas. No meu caso, eu já estava de férias da escola porque meu período de Intercâmbio estava acabando.

Recapitulando: o curso de inglês que eu paguei incluía seis meses de estudos e dois meses de férias. Ou seja, oito meses de Irlanda com visto de estudante. Final de abril eu encerrei meu ciclo escolar e eu tinha maio e junho só para curtir “férias”. Ou no meu caso, aproveitar a temporada de verão e trabalhar 40horas semanais no mínimo. Juntar o máximo de dinheiro possível para voltar pro Brasil?

Pois é, meu pai e talvez toda a família pensavam que depois desse período fora eu voltaria para casa. Mas no meu coração eu sentia que eu precisava de mais tempo para me desafiar. Pra mim, apesar dos momentos difícies tudo passou muito rápido e parecia que eu precisava continuar minha jornada na Irlanda. Eu não tinha certeza da minha vida morando em Roraima. O que eu realmente gostaria de fazer quando voltasse. Eu só conseguia enxergar “continuação” morando na Ilha por pelo menos mais 8 meses.

E o relógio da renovação já começou a “apitar” em meados de abril, quando eu realmente tomei a decisão que eu precisaria pagar mais 8 meses de escola. Eu não queria deixar para a última hora, no caso julho quando o visto venceria e tentar a sorte. Então meses antes eu já pesquisei valores e no fim decidi mudar de escola por causa da localização e também pelo preço. E lá se vão 2 mil euros + 300 euros de visto.

Claro que eu não tinha esse valor inteiro na mão 3 meses antes de ter que sair do país, então tive que pedir ajuda do meu pai. Ainda tinha um resto de dinheiro na poupança e mesmo relutante e pedindo pra eu repensar ele mandou a grana e eu dei entrada no meu processo de renovação. Que nada mais é que fechar a escola e já correr pra marcar atendimento na imigração o quanto antes, de preferência não muito depois do visto vencer para garantir que será aprovado.

Então foi nessa adrenalina de prazos e emoções que eu também aproveitava as oportunidades de serviço. E dois dos trabalhos muito comuns nessa época do ano é o housekeeping (camareira/hoteleira) e deep clean (faxina de limpeza profunda). A faculdade UCD onde eu já trabalhava como faxineira abriu vagas para essas áreas na parte da acomodação dos estudantes. Outra empresa na verdade era responsável pela limpeza nos quartos e eu me inscrevi.

A maioria dos times eram formados por pessoas de várias nacionalidades e na maioria estudantes, claro, que estão ali desesperados para fazer mais dinheiro nas férias. Os turnos eram de 8h ou mais dependendo do dia e dos comôdos que tínhamos que limpar. Os alunos da faculdade deixam os apartamentos para desfrutar do tempo livre, viajar e visitar os familiares e a gente entra em ação para deixar tudo limpo até a estação terminar e a rotina escolar começar de novo.

“Experiência” com limpeza eu podia dizer que tinha de sobra, mas depois de apenas algumas semanas intensas de trabalho eu estava quase pedindo socorro. Anti inflatório e antialérgico todos os dias para aguentar. Era uma sujeira até difícil de acreditar ás vezes. Gordura preta que parecia que a cozinha não era limpa há seculos. Nos banheiros manchas e marcas que até o bleach (água sanitária) e o escovão “choravam” de tanto esfregar, imagine nossas mãos e costas.

Foi um período de dinheiro “suado” literalmente e se duvidar com carimbo de sangue sendo bem dramática mesmo. Foram dias desesperadores em que eu só pensava na possibilidade de ficar mais, enriquecer meu inglês, viajar pela Europa e experimentar outras carreiras. Era dividindo esses “sonhos” e objetivos que a cada intervalo ou mesmo ali na correria dos esfregões que nós faxineiros nos mantínhamos de pé, firme e forte na missão.

Por Gilmara Bezerra

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