A Faxineira/Jornalista no The Irish Times – a empresa do jornal impresso da Irlanda

Diário da Gilmara na Irlanda

Apesar dos perrengues que o final de 2017 me trouxe ainda assim eu e as minhas amigas da casa nova nos juntamos e fizemos um jantar de Natal e celebramos juntas com outras convidadas. Era também como se fosse a despedida da minha amiga que ia voltar pro Brasil. Então imaginem como estavam nossos sentimentos naquele momento. Nem preciso dizer que o início do ano seguinte (2018) começou novamente com fortes emoções e várias mudanças.

No meio desse turbilhão de acontecimentos eu arrumei um emprego novo. Meus dias de segunda a sexta começavam cedo às 5 da manhã. Eu acordava e com todo o cuidado eu me arrumava para não acordar as meninas. Uma missão quase impossível, levando em consideração que o quarto era pequeno, as beliches eram velhas e faziam barulho com qualquer movimento e o banheiro ainda ficava no mesmo espaço.

Pelo menos eu não tinha que enfrentar fila pra usar o banheiro. São as vantagens e desvantagens de uma casa para outra. Agora eu dividia um quarto com mais três e cada uma com diferentes horários. Meu sono que já era leve também ficou “picado”. Porque eu escutava quando cada uma delas fazia algum movimento no ambiente. É o preço que se paga para morar no centro de Dublin perto da escola e de um dos empregos.

Depois do malabarismo para ficar pronta, eu enfrentava 30 minutos de caminhada no frio de congelar e o destino me levou a um trabalho inusitado: faxineira em uma empresa de renome local, o The Irish Times, o jornal impresso famoso da cidade. Olha a ironia: eu que também sou jornalista estava lá exercendo funções de limpeza. Os jornalistas, imersos em suas reportagens e redações, nem faziam ideia que eu tinha conhecimento e formação na área também.

A solidão matinal era minha companheira enquanto eu varria, limpava mesas e cuidava da cozinha do escritório. Os poucos funcionários que cruzavam meu caminho mal me davam bom dia, e eu, nos bastidores, ficava imaginando um dia poder estar do outro lado, como uma das repórteres ou redatoras. Mas a minha realidade era outra. A renovação do visto de estudante estava perto (março) e meu foco tinha que ser no aprimoramento do meu inglês e claro: fazer mais grana possível.

Falando em estudo, depois das três horas dedicadas à limpeza e mais uns passos de 10 minutos eu chegava até a escola. Pronto, a primeira metade do meu dia foi cumprida. Após as aulas às 13h eu seguia para o ponto de ônibus que me levava até a escola das crianças, onde eu desempenhava o papel de babá até o final da tarde. Nos fins de semana, rolava um extra com os trabalhos de babysitting para os pais.

E apesar de uma rotina cheia, eu ainda tinha energia para sair aos fins de semana. Aliás, saudades 27 aninhos (risos). Quando não estava paquerando, namorando (que significa também imergir na cultura irlandesa), eu estava curtindo restaurantes e bares com as amigas. Em uma dessas noites foi a despedida de solteira de uma amiga, na qual eu seria a madrinha. O casamento seria em fevereiro e eu também estava ansiosa com os preparativos para viver essa experiência na Irlanda.

Era a vida acontecendo cheia de nuances, um contraste entre as responsabilidades diárias e os momentos de celebração e curtição que de certa forma também me traziam muitos aprendizados e trocas de conhecimentos. Era mais um capítulo curioso da minha história se formando naquele novo ano de Irlanda.

Por Gilmara Bezerra

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