Quase dois meses de Irlanda e meu processo de aprendizado morando na casa 368

Diário da Gilmara na Irlanda

As semanas foram passando e com elas o frio foi se intensificando. Eu estava quase me encaminhando para dois meses de Irlanda. Ainda em fase de adaptação da minha nova casa, entrando no ritmo da rotina e conhecendo um pouco mais das pessoas ao meu redor. Leva tempo mesmo pra criar proximidade, confiança. E eu posso dizer que as minhas principais armas de sobrevivência do intercâmbio até o momento estavam sendo paciência e resiliência. Além de estar cem por cento aberta a desafiar meus hábitos e costumes.

Imagina que estar fora da sua zona de conforto é passar por um teste de emoções todos os dias. Começando pelo quarto que já tem um espaço limitado para duas pessoas e eu como tenho sono leve comecei a colecionar noites mal dormidas. E a privacidade é quase zero, porque os dois tem rotinas diferentes então você vai estar sempre na expectativa da chegada do outro. A troca de roupa é melhor ser feita no banheiro por exemplo. Visitas íntimas então nem pensar.

Saindo do quarto você tem que colocar a “máscara” do bom humor para socializar e respeitar as outras dez pessoas que moram com você. Não estou dizendo que somos obrigados a ser amigos, mas o mínimo de educação e interação é importante manter. Todo mundo tem um dia ruim ou mais introspectivo e ninguém tem nada a ver com seus problemas, então quanto mais amigável é a convivência, mais fácil de ter paz. E vale lembrar que festas somente com o consentimento de todos, aos fins de semana de preferência, mas sem perturbação até muito tarde da noite.

Para o uso da cozinha e banheiro melhor tomar mais uma dose grande de paciência viu. As vezes a comida ou o banho não vão sair no horário que planejamos. Engole a frustração e o estresse, adia a higiene pessoal e vai comer fora. O jeito como cada um limpa depois de cozinhar ou usar o chuveiro/pia/privada talvez também não vão ser do seu agrado. Brigas e desentendimentos vão acontecer, afinal são pessoas de personalidades e criações diferentes tendo que dividir o mesmo teto. Reuniões e muita conversa colocavam a casa nos eixos de novo.  

Mas as minhas melhores lembranças estavam nas nossas reuniões de almoço/jantar sem razão ou motivo especial. Sabe aquele almoço de domingo em família que muita gente faz no Brasil? Pois é, sempre  tinha algum fim de semana do mês que o Tom ou o Rodrigo se disponibilizavam para cozinhar para todos que quisessem ter uma refeição juntos. Eles compravam os ingredientes e depois dividíamos o valor entre todos. Inclusive aprendi a comer strogonoff por causa deles (risos). Era sempre muito divertido e tudo bem delicioso.

A imersão cultural, emocional e até física que eu tinha dentro e fora do apartamento era surreal. Ao sair nas ruas tudo já estava ficando diferente. A natureza passava pela transição do outono para o inverno, com as árvores perdendo folhas e flores, a temperatura batendo os seus 10 graus e baixando e um céu cinza diário. A luz do dia aparece mais tarde quase 7/8h da manhã e vai embora por volta das 4/5h da tarde. Casas e transportes com os vidros embasados por causa do choque térmico entre o aquecedor interno e o ar gelado no exterior.

As pessoas com um visual mais “pesado” para esquentar o corpo e a mente. As cafeterias lotadas de gente garantindo o seu chá, café ou chocolate quentes que confortam a alma enquanto fogem do vento/chuva que dói na pele de tão frio. Para mim que nunca tinha experimentado um clima que é o oposto das minhas origens viver na Ilha essa época do ano estava sendo uma aventura boa e ruim ao mesmo tempo. Gostei da exposição ao frio, com roupas adequadas é possível se proteger bem, mas sem a claridade do sol o desânimo e a tristeza são difíceis de controlar.

Mas se tem uma coisa que melhora a animação das pessoas nessa passagem de estações entre novembro e dezembro são os preparativos para o natal. Assim que o halloween termina, as decorações assustadoras das lojas automaticamente dão lugar para os enfeites natalinos e o clima é de festa e várias programações. Inclusive na minha casa. O lado bom de morar com um grupo grande é que você nunca vai estar sozinha (risos) e os planos para o jantar do dia 24/12 já estavam em andamento… continua…

Por Gilmara Bezerra

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