A rotina de conquista das meninas

Diário da Gilmara na Irlanda

Depois de finalmente ter achado meu trabalho de babá fixo, de segunda a sexta e pagamento em cash (dinheiro) eu estava muito feliz. Porém minha rotina era cheia. Começava cedo com a faxina na faculdade, em seguida aulas de inglês (eu era a que chegava atrasada e saía cedo ainda) e de lá direto buscar as meninas na escola. Prioridade era estar lá na porta assim que os portões abrissem para não causar estresse entre as crianças. Algumas vezes, quando era dia de playdate, eu tinha que levar pra casa as amiguinhas junto.

Nosso tempo diário era bem cronometrado. A caminhada da escola até em casa levava em torno de 15 minutos. Mas com criança sempre tem que contar com a pausa para cumprimentar colegas na pracinha ou quando tem permissão para passar no mercadinho e comprar doces ou salgadinhos. Chegando em casa já vou logo preparando um lanche rápido, geralmente um sandwiche ou um macarrão simples. Lógico que elas vão sempre preferir comer as “besteiras” primeiro e depois de muitos argumentos conseguia convencer para depois da lição.

A tarefa de casa geralmente era momento de tensão, estavam cansadas e só queriam saber de brincar. Essa era umas das partes mais difíceis pra mim. Não só pelo fato de ter que sentar junto e ajudar/auxiliar e até ensinar (algo que eu também tô aprendendo de certa forma por ser tudo em inglês) mas também porque elas relutavam muito e ficavam sem paciência. Nas sextas feiras geralmente era mais tranquilo porque não tinha atividade esportiva então terminando a lição elas estavam livres pra brincar pela casa, no quintal no pula pula. Ou era dia de passar a tarde na casa de amigas (playdate).

Nos outros dias da semana por volta das 3h30 sempre tinha alguma atividade, natação, ginástica, tênis e irish dance (aula de dança irlandesa). Eu não lembro mais a ordem. E algumas delas eu tinha que levá-las andando porque era perto, se não a mãe ou a mãe de amiguinhas passava de carro lá pra buscar e deixar de volta em casa. Tem dias que o humor delas estava agradável para ir e já outros dias que iam reclamando. A aula favorita mesmo era de ginástica.

Depois desse tempinho de atividades eu cuidava do jantar da família. A mãe sempre deixava a sugestão do dia. Tanto para as crianças como para os pais. Na maioria das vezes eu cozinhava separado. Os pais comiam receitas de livros, algo mais elaborado que ela deixava já os ingredientes separados para mim e para os filhos era algo mais simples e certo de que elas comeriam tudo sem reclamar. Proteína, carbo e vegetais não poderia faltar e às 5h30 em ponto eles tem que já estar comendo a refeição da noite. Muitas vezes os pais nem chegaram em casa ainda.

Quando eram 6h ou no máximo as 6h30 eu estava liberada para ir embora. E toda sexta-feira eu recebia meu pagamento em dinheiro. À medida que nossa relação crescia, percebi que poderia oferecer mais do que cuidados durante o dia. Assumi a responsabilidade de fazer babysitting à noite e nos fins de semana, permitindo oportunidades valiosas para aprofundar nossa conexão, criar memórias especiais e solidificar os laços familiares.

Eu estava amando meu trabalho. Essa família é muito especial pra mim e me ajudou nos momentos que mais precisei. Os pais sempre foram muito gentis e justos comigo. As tarefas domésticas eu só fazia mesmo quando as crianças estavam fora porque ela tinha a faxineira dela que ficava com a parte mais pesada da limpeza. Eu ficava responsável só pela organização da cozinha, colocar roupa suja na máquina, passar roupas às vezes.

Quando eu estava de babysit geralmente era só assistir um filme com eles dependendo do horário, depois fazer a rotina do sono, escovar os dentes e preparar pijamas pra dormir, arrumar o que tivesse fora do lugar e esperar eles chegarem com o táxi já me esperando pra me levar pra casa. Nas noites que não tinha táxi por algum motivo ela me deixava dormir no quarto de hóspede e no outro dia cedo meu táxi tava na porta. Eles sempre me pagavam em dia.

Por Gilmara Bezerra

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