Diário da Gilmara na Irlanda
As bagagens já estavam praticamente prontas. Mas é incrível como depois de apenas três semanas eu já tinha acumulado bastante coisas e por isso seria necessário fazer minha mudança em duas partes. Afinal, desta vez a caminhada seria mais longa: de 25 minutos. Então vamos lá para a minha terceira acomodação na Irlanda (até o momento) localizada um pouco mais afastada do centro, ainda no lado ímpar: Dublin 7, bairro Phibsborough.
Os rumores que ouvimos ou lemos sobre essa região da cidade são sempre um pouco negativos vamos dizer assim, “it is a bit rough área” (é uma área um pouco áspera) que na verdade numa tradução mais simples significaria ser delicada/perigosa. Digamos que para os irlandeses é uma das partes de Dublin onde se concentram muitos cidadãos em situação de rua, dependência química, em conflito familiar, onde é preciso prestar atenção ao andar pelas ruas.
E esse foi um detalhe que eu até perguntei dos meninos no dia da visita e para eles a convivência no local era tranquila, que nunca tiveram nenhum problema. E para falar a verdade, na região central da capital onde eu vivi por três semanas também é possível ver a presença dessas pessoas. Muitas vielas tem uma “energia pesada” com homeless (moradores de rua) e seus sacos térmicos de dormir e cobertores, ou até grupo de adolescentes, na maioria fumantes, fazendo bagunça.
A gente sabe que a violência no Brasil é preocupante e eu mesma já fui vítima de assaltos e o trauma me deixou mais esperta e em alerta o tempo todo. Então, apesar dessa informação negativa e de já ter presenciado e cruzado com esses indivíduos e nada ter acontecido, meu foco era em ter uma casa definitiva para morar. O desespero de marcar na minha lista: “menos um problema pra resolver” era maior do que o receio em residir naquela zona. Até porque estatísticamente falando e comparando os dois países, a segurança na Ilha ainda é bem melhor/superior.
Um perrengue de cada vez não é mesmo? E o próximo da lista era o meu financeiro, porque lembram que o atraso em achar essa residência me fez pagar mais de 300 euros pra agência por mais uma semana de acomodação de emergência? Pois bem, com esta nova aquisição eu tive que desembolsar de cara mais de 600 euros. Aqui na Irlanda junto com o primeiro aluguel você tem que pagar um calção/depósito no mesmo valor. Para dividir esse apartamento com 12 pessoas o aluguel me custava 350 por mês mais contas (energia, gás, lixo, manutenção da casa no total de 110 euros mensais aproxidamente).
Eu fiz minha mudança pela manhã antes de ir pra escola, então só deu tempo mesmo de jogar minhas coisas no quarto pequeno e estreito e na cama da parte de cima da beliche que era onde eu dormiria. Não cruzei com ninguém em casa. Enviei uma mensagem pro meu companheiro de quarto avisando para não se assustar com a bagunça já que eu voltaria mais tarde para arrumar tudo.
Depois da aula, quase 7 horas da noite eu chego no prédio e quando eu abro a porta me deparo com uma cozinha/sala movimentada, banheiros ocupados e o Tom me apresentou para os meus novos parceiros de casa. Pelo que me recordo só tinha um Italiano e um Espanhol, o resto eram todos brasileiros e de novo eu era a única do Norte. Mas vale lembrar que a rotatividade de pessoas numa casa como essa costuma ser frequente, ou seja muitas pessoas passaram pela minha vida na temporada que eu morei lá.
Eu senti uma boa vibração, mas sendo eu uma pessoa mais tímida e reservada acho que demorei para me introsar com as pessoas. O choque também em ver como o ambiente fica quando todos estão presentes me deixou um pouco preocupada e desanimada. E eu comecei a me questionar: e essa fila pra usar o banheiro ou até pra usar o fogão e cozinhar? Será que vou conseguir descansar ou as conversas e movimentação do outro comôdo vão me incomodar? Será que eu vou ter paz aqui?
Continua…
Por Gilmara Bezerra
Uma resposta
Brilliant blog again! You paint a really vivid picture of this part of Dublin. Anyone who has been there will recognize it instantly. Well done. Can’t wait to read the next one.xxx